Dançamos COM nossos bebês e não APESAR deles
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Dançamos COM nossos bebês e não APESAR deles

Os seres humanos são os únicos mamíferos que separam suas crias recém nascidas de suas mães. E seguem nessa insistência do afastamento o quanto antes, por toda a existência do filho. Para dormir, berços, para passear carrinhos, para a mãe "voltar a ser quem ela era antes", creches. Desde muito cedo.


Claro está que nosso momento de mulher contemporânea exige muitos aparatos e recursos que nos permitam atender demandas inevitáveis, como muitas vezes é a do mercado de trabalho, combinado com a falta de leis e suporte social que apoiem a presença estendida da mãe (e pai) na vida do bebê.


Mas um tanto muito largo desse afastamento vem apenas da normose generalizada e falta de sensibilidade quando tratamos do binômio mãe e filho: a sociedade humana criou essa cultura de separação.


Laura Gutman, terapeuta Argentina que trabalha com famílias e crianças, defende que as crianças e os bebês são seres fusionais, ou seja, que, para serem, precisam entrar em fusão emocional com os outros. Este com o outro é um caminho relativamente longo de construção psíquica em direção ao "eu sou".


Essa necessidade de fusão não é diferente para as mulheres-mães, muito embora para os adultos, sob pressão e conivência, pareça ser mais possível estar afastado do filho pequeno do que o é para a criança.


Nesse contexto todo, temos vivido (ainda bem) um resgate sincero do desejo de estar perto. De estar junto, de dividir a cama, de carregar no colo. O popularmente conhecido "Attachment Parenting" ou criação com apego é apenas uma etiqueta para o processo de retomada dessa proximidade instintiva, que garantiu a sobrevivência da espécie humana ao longo do processo de evolução: não é preciso muito esforço para concluir que se nossos antepassados hominídeos colocassem os filhos para dormir "no pé da outra árvore" a espécie humana não teria sobrevivido.


Ainda que genericamente qualquer bebê esteja melhor no colo da mãe do que afastado dela, uma de nossas diretrizes para a vivência da Dança Materna é de que não se trata apenas de amarrar o bebê no colo e sair dançando.


Praticar o colo, a vivência estética da dança e a poesia do movimento em simbiose está para além de permitir que a mãe "volte a ser o que ela era antes". Está também para além de permitir que ela, ou qualquer adulto que cuida de um bebê, faça tarefas do cotidiano, muito embora todos nós tenhamos a dimensão do quanto o uso dos carregadores enquanto facilitadores de colo realmente tem efeitos positivos na vida prática.


Na Dança Materna somos constantemente desafiados a viver os corpos em movimento, troca e equilíbrio. Somos desafiados a estar com os filhos em momentos de expressão artística e criativa, com adequação da dupla. E formamos nossa equipe de profissionais para a reflexão desses desafios, de modo que mães e bebês participantes estejam sempre contemplados por uma experiência integral de cuidado e atenção. Para ambos.


Dança Materna em São Paulo

Foto da aula em São Paulo por Debora Torrielli



Recentemente temos visto (e nossas professoras podem confirmar, tamanho volume de marcações que recebem nesses conteúdos) muitos vídeos de mulheres ao redor do mundo em atividades físicas variadas, com bebês amarrados no sling. Ficamos sempre muito satisfeitas em ver que caminhamos, enquanto coletivo, à uma reaproximação às nossas crias, e isso tem sem dúvida efeitos benéficos.



Mas precisamos pontuar que qualquer atividade que envolva dois corpos em movimento, pode e precisa ter o carinho e consideração por ambos, não apenas pelo corpo do adulto. Especialmente em se tratando de corpinhos de bebês, que muitas vezes aparecem chacoalhando em esquemas dançantes, coreografados e sem nenhuma atenção para sua presença física e emocional ali.


Dança Materna em Poços de Caldas

Aula da Dança Materna em Poços de Caldas, por Caroline Paim


Deixamos o convite para a reflexão, reforçando a premissa de que as atividades, propostas e iniciativas para adultos e bebês em conjunto precisam contemplar ambos, sob o risco de ser apenas mais uma embalagem plástica para a conduta que já conhecemos: distância e afastamento.


Vivemos, existimos, estamos e dançamos com os nossos bebês. E não apesar deles.


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