Pai que entra na Dança!
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Pai que entra na Dança!


Somos uma família colorida. Aqui todos vestem azul e rosa - meninos e meninas. Somos uma família que divide as tarefas domésticas. Confesso que não sou uma pessoa íntima da lava-roupa, talvez tanto quanto minha esposa não é da cozinha. Na criação das crianças, tal qual na vida, o que mais funciona, é ensinar pelo exemplo.

É muito difícil que uma criança coma frutas e legumes se nós adultos só nos alimentarmos de comida congelada e doces cheios de melecas.

Não é possível exigir dos filhos que tenha respeito com a mãe, se nós mesmos não tratarmos a mãe deles com respeito… como então dizer para suas crianças que as tarefas domésticas devem ser divididas e que não há “coisas de menina” e “coisas de menino”, se em nossa rotina essa divisão ainda prevalece? Em casa sou eu que cuido do jantar. Para os meus filhos, faço o melhor ovo frito, gaspacho e molho de macarrão da Paróquia.

E o segundo tutu-de-feijão mais gostoso do mundo, perdendo apenas para o do consagrado Restaurante Consulado Mineiro, em São Paulo, no qual, pessoalmente, aprendi a receita. Eu uso rosa. Frequentemente. Um pouco porque gosto de ser colorido. Um tanto porque gosto de rosa. Bastante pelo exemplo que se cria em casa.

O Gil usa rosa. Roupas herdadas da irmã, que continuam no armário e não são dispensadas apenas por conta da cor. Compramos roupas rosa.

Ele tampouco conhece a divisão cromática por gênero. Isso nunca fez sentido para nós. Ele gosta de colares, faixas de cabelo e braceletes. Ele adora cozinhar. Faz seu próprio pão na chapa. E deliciosos ovos fritos também. Outro dia foi até a rua, prato na mão, para me mostrar que havia acertado ovos duplos, gemas perfeitas, moles, casquinha torrada, a mais perfeita tradição da casa. Na escola em que estuda, as crianças dividem os cuidados cotidianos com o espaço e ele integra, voluntariamente, o grupo que é responsável por lavar a louça.

Na escola, na rua ou na vida, um dia certamente alguém tentará convencê-lo de que ele está se comportando de uma forma inadequada para um garoto, que estas coisas são de meninas ou coisas do “gênero”.

Nesse dia, eu espero que ele se sinta fortalecido e amparado pelo exemplo que vem de casa, pelas coisas que fazemos, desde sempre, juntos e porque ele nasceu e cresceu vendo seu pai fazer.

Gil é um menino muito bagunceiro - como qualquer criança de sete anos - e eu gostaria que ele pudesse contribuir mais nos afazeres domésticos. O que ele faz, ou deixa de fazer, entretanto, não tem nada a ver com “ser menino” ou “ ser menina”.

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